fim do dia
tivemos que andar numa trilha para chegar até lá. o caminho de terra era estreito mas famílias e crianças dividiam conosco a respiração desregulada. só mais quinze minutos e já chegamos. apertei um pouco mais forte a mão dele e ignorei a gota de suor que escorria pelo meu rosto. naquele dia fez trinta e três graus. quando chegamos à famosa pedra lá no alto, ela estava tomada. diversos casais e famílias e ambulantes estavam ali sentados e por um momento vi a frustração tomar conta do rosto dele. não conseguiríamos um lugar para sentar nem ferrando, mas isso não foi motivo para desistir. dali de cima eu vi o mar gigante e infinito indo para onde minha imaginação não consegue conceber. a vastidão tomou conta de cada espaço do meu corpo e eu pude, também, me sentir gigante. sorri para toda aquela imensidão, fechei os olhos para sentir melhor os últimos raios do sol que queima a milhões de quilômetros da minha pele e abri apenas para observar o rosto dele que agora também sorria. nos abraçamos. em silêncio observamos a luz se esconder atrás do mar e céu ficou de uma cor tão bonita que eu quis chorar. olhei para as pessoas sentadas, cada um contemplando o início da escuridão do seu próprio jeito. as crianças começaram a aplaudir. não é tempo para se sentir ridículo: aplaudimos juntos com risadas e lágrimas aquele espetáculo cotidiano que é um pôr do sol vista do alto de uma trilha.